domingo, 19 de fevereiro de 2012

20 Infalíveis Princípios para o Progresso e o Sucesso das Ciências Sociais no Século XXI


1. Adote como princípio metodológico o relativismo. Esta é a única regra absoluta absolutamente válida para todas as ocasiões.

2. Evite os temas “macro”. Delimite microscopicamente seu problema de pesquisa, abstraindo seu objeto de todas as relações com o contexto em que ele se insere. Escolha estudar, por exemplo, a dinâmica de socialização hetero-afetiva no interior de uma lanchonete de subúrbio às seis horas da tarde de domingo. Depois, tire dali conclusões teóricas capazes de serem aplicadas a qualquer campo de estudo das ciências sociais.

3. Se estiver com o prazo apertado para a entrega de seu trabalho, deixe a questão do método para segundo plano. Fora os professores de epistemologia e metodologia científica, que ficaram nos semestres anteriores, ninguém vai se preocupar em verificar se estão bem fundamentadas as suas categorias de análise.

4. Há quem ache que a verdade objetiva não existe. Há quem jure de pé junto que existe. Não se demore muito em questões desse tipo. O tempo urge. Em assuntos científico-sociais de ponta, mais do que verdadeiro é importante ser convincente.

5. Max Weber é o mais fecundo, profundo e prolífico intelectual de todos os tempos. É possível passar uma vida inteira estudando e descobrindo novas informações e insights em suas obras. Sua metodologia se aplica a praticamente tudo. Sua explicação do capitalismo é insuperável.

6. Em diálogos com colegas de orientações teóricas diversas, esteja sempre no ataque. Não é necessário ouvir e meditar demoradamente sobre o argumento do adversário. Aconteça o que acontecer, demonstre, de pronto, que ele está errado.

7. Não importa se o conteúdo do seu trabalho é estapafúrdio. O que importa é, sem sombra de dúvida, o aval de quem lhe banca.

8. Max Weber é o mais fecundo, profundo e prolífico intelectual de todos os tempos. É possível passar uma vida inteira estudando e descobrindo novas informações e insights em suas obras. Sua metodologia se aplica a praticamente tudo. Sua explicação do capitalismo é insuperável.

9. O ideal é ser sempre politicamente correto e deixar os preconceitos sob controle. Fazendo isso, você atinge a condição intelectual necessária que lhe permitirá tripudiar à vontade e colocar no devido lugar aquele seu colega cabeludo impertinente, que usa camisetas do Che Guevara.

10. Em uma discussão pública, fale grosso. Em ciências sociais, retórica é fundamental.

11. Use os livros da coleção “Primeiros Passos” – principalmente “O que é poder?”, “O que é etnocentrismo?” e “O que são classes sociais?” -, mas não comente com ninguém sobre esse assunto.

12. Max Weber é o mais fecundo, profundo e prolífico intelectual de todos os tempos. É possível passar uma vida inteira estudando e descobrindo novas informações e insights em suas obras. Sua metodologia se aplica a praticamente tudo. Sua explicação do capitalismo é insuperável.

13. Mantenha sua subjetividade sob atenta vigilância epistemológica, não tome partido sobre nenhum conflito, esqueça a política do lado de fora da sala de aula. A neutralidade é a meta. Observe tudo a partir da perspectiva celestialmente sublime e imperturbável de Deus.

14. Trate com grande seriedade e respeito os temas mais simplórios e irrelevantes. Prefira os mais mínimos particularismos. Aquilo que afeta a vida de todo mundo não merece interesse (não existe).

15. É de bom tom usar os termos “pós”, “neo” ou “novo” quando estiver tecendo considerações críticas sobre fenômenos do mundo contemporâneo.

16. Tenha opinião formada e seja capaz de falar sobre todos os assuntos. Principalmente quando estiver fora do ambiente acadêmico ou discutindo com um novato.

17. Se você for da ciência política, descarte Marx como sociólogo; se for da sociologia, descarte como filósofo; se for da antropologia, descarte como economista e reducionista; se for "pós-moderno", descarte como "moderno".

18. Se você for positivista, use bons gráficos para exemplificar a realidade social. Mantenha-se atualizado sobre as estatísticas e não se esqueça de utilizar modelos interpretativos do tipo “input” e “output”.

19. O ecletismo teórico te salva de muitos impasses, principalmente em monografias de conclusão de curso e em entrevistas de TV.

20. As classes, as lutas de classes e as ideologias estão terminantemente mortas e enterradas desde a queda do Muro de Berlim, em 1989.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O imbecil acadêmico

O pior tipo de imbecil é o imbecil acadêmico. Ele não vê, não pensa e não sente nada que não seja a partir dos seus preconceitos acadêmicos (que ele, é claro, tem obsessão em mascarar). Acredita ser superior ao vulgo e às pessoas que tenham um diploma a menos que os seus. Pensa estar acima de todos os preconceitos humanos, mas é capaz de zombar e proferir as chacotas mais infames contra quem possuir uma teoria diferente da sua.

Adora fazer pose de politicamente correto, mas sente um prazer imenso em olhar de cima e menosprezar, com um sorrisinho maroto, alguém que ele por acaso julgue menos “esclarecido”. Prega, não raro, o relativismo, mas adora usar as suas certezas absolutas para tripudiar das concepções dos outros. Crê ser um libertário em matéria de costumes, mas é capaz de, com a mansidão de um cordeirinho, se submeter às conveniências acadêmicas e usá-las descaradamente para o bem e a glória do seu amado “curriculum”.

Tem opinião formada sobre tudo e nenhuma área do saber humano é tabu para o seu insaciável diletantismo. Arte, religião, ciência, sociedade, política, cultura, moral, tudo isso ele tira de letra com o seu trololó empolado de imbecil acadêmico. Além disso, é capaz de teorizar seriamente, sem se envergonhar, sobre temas completamente irrelevantes – que na sua retórica, é claro, ganham contornos de imensa respeitabilidade.

Certificados, currículos, notas, títulos e a própria etiqueta acadêmica costumam ser objeto da sua mais elevada veneração. Idolatra outros imbecis que estejam acima dele na hierarquia acadêmica e só sente vergonha de uma coisa: reconhecer em público a sua completa ignorância a respeito de determinados assuntos (especialmente quando está fora do ambiente acadêmico).

O imbecil acadêmico é tão palerma que acredita piamente no resultado das suas pesquisas (acha, inclusive, que descobriu “O Método” de investigação científica). Nem imagina o idiota que esse seu jeito estúpido de ser apenas reproduz os hábitos e as condutas mais estapafúrdias da sociedade da qual ele acredita ser a “nata espiritual”.