sábado, 18 de junho de 2011

Meditação sobre o amor nº 2

O amor, quando se perde, gera uma tristeza infinita. Por que? Porque o amor alimenta a alma, a vida, a carne, o ser como um todo, as aspirações mais profundas e as delícias do existir. E se falta o amor, falta tudo, falta o equilíbrio para a marcha, falta o músculo que nos permite levantar da cama nas manhãs de chuva ou de sol, falta a torrente de ímpeto que possibilita que caminhemos, decididos, em direção ao nosso alvo, ao nosso objetivo precípuo, a nossa realização tão sonhada.


E pensar que nesta sociedade capitalista é tão raro encontrarmos um amor que fecunda e faz crescer, tão raro como ganhar na loteria, tão raro como acertar a lua.


Com certeza, o amor dos pais pelos filhos, dos camaradas na luta, dos amigos em sua amizade plena, o amor dos amantes, são formas existentes, válidas, exemplares do que se pode ter em se tratando desse assunto, mas essas coisas são ilhas neste mundo e não passam, infelizmente, disso. Há um oceano de conflito, de desprezo, de antagonismo, que, com suas marés moribundas e nefastas, atinge todos os dias as praias do nosso vigor, a enseada do nosso viver e a baía da nossa realização enquanto criaturas completas e aspirantes da bem-aventurança.


O amor, construção humana das mais preciosas, âmbar para a virtude, essência de sândalo para o desânimo, textura de pétala de flor a nos acariciar e acalmar a pele. O amor, fonte cristalina para o revigorar do corpo, saciedade para a sede no deserto, brisa fresca a nos fazer sentir como que nas proximidades de uma cordilheira. Êxtase de cume de montanha ao olhar os despenhadeiros ao redor, cheiro verde da grama que nos abraça alegre ao nos rolarmos nela, força gravitacional que nos impele não para baixo, mas para o desabrochar do mais essencial em nós, a multiplicidade de dons, de sons, de imagens, de canções, de poderes inusitados e insuspeitos que jazem adormecidos na imensidão obscura do nosso espírito.


Que ninguém pense que isso seja como a calmaria de um porto seguro, que se atinge após uma longa aventura pelos quadrantes perdidos e esquecidos dos sete mares à disposição. Antes, o amor é o próprio desejo de seguir viagem, a coragem de enfrentar abismos, tormentas, ciclones, furacões, dragões e monstros marinhos, a fé na possibilidade da emancipação e a convicção de que ninguém está circunscrito à tristeza da condenação de uma vida eterna na condição de menos que ser, de menos que humano.


Estou compreendendo que a falta do amor presente me causa uma comoção tremenda, uma angústia, uma melancolia interminável que me é difícil digerir e que me faz ter um pensamento renitente, um anseio, uma necessidade permanente e indestrutível, que me arrebata e me prende a uma conjunção de gestos cujo sentido é dado pela mais genuína vontade de corporificar de novo o amor em minha frente, custe o que custar e doa a quem doer.


Que todos possam aprender, hoje, sempre, nas situações corriqueiras de aparente tédio ou nas conjunturas em que tudo parecer estar perdido, que todos possam aprender a cultivar o seu amor.

Um comentário:

  1. Estou compreendendo que a falta do amor presente me causa uma comoção tremenda, uma angústia, uma melancolia interminável que me é difícil digerir e que me faz ter um pensamento renitente, um anseio, uma necessidade permanente e indestrutível, que me arrebata e me prende a uma conjunção de gestos cujo sentido é dado pela mais genuína vontade de corporificar de novo o amor em minha frente, custe o que custar e doa a quem doer.

    (tradução de muitos dias meus)

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