quinta-feira, 15 de abril de 2010

15 de abril... 4 da manhã... Uma tristeza

Uma tristeza

Existe em mim
a qualquer hora
uma tristeza
humilde e calma

Que a vida pode
atenuar,
mas não privá-la
desta graciosa

Fidelidade
que ela me tem,
uma tristeza
que de tão tímida

Não diz seu nome,
permanecendo
enrodilhada
na minh'alma,

Como uma gata
em seu borralho,
uma tristeza
que vem do ser

E que não logro
saber por que
não desanima
de ser tristeza

Mesmo nas horas
de maior júbilo,
quando minha alma
é paz e risos!

Oh! sim, existe
em mim, no fundo,
a nostalgia
de alguma coisa

Que outrora fui
e que depois
deixei de sê-lo,
pois não se explica

Essa tristeza
que não me dói
senão por sua
simples presença,

Por não estar
senão em mim,
por existir
à revelia

De qualquer dor,
de qualquer ódio,
essa tristeza
que é só tristeza,

Que é humilde e calma,
que me contempla
com grandes olhos
fixos e doces...

Será preciso
que um dia a aceite,
pois como pode
um coração

Se recusar
a tal ternura,
tão natural
e tão gratuita?

Eu bem quisera
ser todo alegre,
e não amar
senão o júbilo

Do mar que escarva
a noite imensa,
do Mundo inteiro
em frenesi,

Mas é impossível
ser insensível
a tão solícita
melancolia,

Que é como o odor
do meu espírito
em solidão
inevitável,

E que de pura
fidelidade
chega a sorrir-me
quando estou só!

Existe em mim
a qualquer hora
uma tristeza
que é fidelíssima,

E deve ser
a própria queixa
do ser que pede
libertação.

Existe em mim
algo de tão
puro e essencial
que só me resta

Ser tão humano
que não recuse
sua presença
simples e amarga.


(Armindo Trevisan)

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