Quando tanto se sofre e pelo sangue
se escuta que transita simplesmente a raiva,
que nos ossos freme despertado o ódio
e nas medulas arde contínua a vingança,
as palavras, então, já não servem: são palavras.
Balas. Balas.
Manifestos, artigos, comentários, discursos,
fumaceiras perdidas, neblinas estampadas.
Que dor dos papéis que há de varrer o vento,
que tristeza da tinta que há de manchar a água!
Balas. Balas.
Agora sofro o pobre, o mesquinho, o triste,
o desgraçado e morto que tem uma garganta
quando desde o abismo de seu idioma quisera
gritar o que não pode por impossível, e cala.
Balas. Balas.
Sinto, esta noite, feridas de morte as palavras.
Rafael Alberti
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