segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Noite de 14 de fevereiro. Um poema.

Quando tanto se sofre e pelo sangue

se escuta que transita simplesmente a raiva,

que nos ossos freme despertado o ódio

e nas medulas arde contínua a vingança,

as palavras, então, já não servem: são palavras.


Balas. Balas.


Manifestos, artigos, comentários, discursos,

fumaceiras perdidas, neblinas estampadas.

Que dor dos papéis que há de varrer o vento,

que tristeza da tinta que há de manchar a água!


Balas. Balas.


Agora sofro o pobre, o mesquinho, o triste,

o desgraçado e morto que tem uma garganta

quando desde o abismo de seu idioma quisera

gritar o que não pode por impossível, e cala.


Balas. Balas.


Sinto, esta noite, feridas de morte as palavras.


Rafael Alberti

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