quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Da incrível arte de tocar estrelas

(Para o Tex)





Ele poderia ter sido astrônomo, se assim tivesse quisto. Poderia ter sido navegante, poderia ter sido tantas outras coisas. A despeito de tudo, preferiu ser poeta, ser amigo das palavras, embebedar-se com elas em noites cheias de luar, flanar na madrugada, deslisar rente ao chão, deixar um rastro prateado pelo espaço atrás de si... E assim foi. E assim seguiu na vida.

***

Certa ocasião, ao fim de um desses rodopios cintilantes e noturnos, de longe viu passar uma estrela de luminosidade ímpar, com a qual seu coração de poeta jamais sonhara. Um estremecimento despontou na alma. A multidão de olhares que endereçou a ela parecia um cortejo triunfante que a seguia aonde quer que fosse.

Ela foi embora, se escondeu na luz do sol. Ele, vencido pela inevitável solidão, foi se abrigar entre os cordões da lira, a fim de encontrar a força para suportar a prisão sem muros da ausência. Dali, sempre que podia, soltava aos céus os sonhos que de si transbordavam, suspiros convertidos em balões-metáforas e em pandorgas-rimas, tomando, certamente, o cuidado necessário para que os ventos do desejo os levassem até o especialíssimo destino almejado. Era um alento e uma consolação, e também um refúgio e uma fonte de ânimo. Durante noites sem conta conversou assim com os olhos da amiga, nunca perdendo a esperança de poder achar um meio de profanar a gravidade, subverter a distância e atingir a utopia.

Muito tempo passou nessa rotina, até que, num belo dia, depois de um poema mandado – ora, vejam - por sinais de fumaça, o encanto se fez.

E então ela veio. E então se amaram...

***

Os astrônomos se deleitam com sua beleza, decifram-lhes o movimento e descobrem em suas entrelinhas segredos antiqüíssimos que contam sobre as origens desconhecidas do Universo.

Os navegantes tem-nas como guias e nessa companhia atravessam os mares, vivendo aventuras que pareciam estar especialmente preparadas para sua astúcia e coragem.

Mas somente aos poetas é dado tocar as estrelas.




.

Um comentário: