Damos dinheiro para manter o sofrimento dos outros a uma distância segura que nos permite satisfazer a simpatia emocional sem colocar em perigo nosso isolamento seguro de sua realidade. Essa separação das vítimas é a verdade do discurso da vitimação: eu (o assediado) versus os outros (do Terceiro mundo ou os sem-teto de nossas cidades) com quem simpatizo à distância. Em contraste com essa bagagem ideológico-emocional, a autêntica obra de amor não reside em ajudar o outro como se jogássemos para ele migalhas de nossa riqueza através de uma barreira segura: é, em realidade, o trabalho de desmontar essa barreira, de atingir diretamente o sofrimento excluído do Outro.
ZIZEK, Slavoj. Às portas da revolução: escritos de Lenin de 1917. São Paulo: Boitempo, 2005, p. 222-3.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Sobre os sintomas das oportunidades perdidas, no amor e nas revoluções
A verdadeira escolha com relação ao trauma histórico não está entre lembrar-se ou esquecer-se dele: os traumas que não estamos dispostos a ou não somos capazes de relembrar assombram-nos com mais força. É necessário então aceitar o paradoxo de que, para realmente esquecer um acontecimento, precisamos primeiramente criar a força para lembrá-lo. Para responder a este paradoxo, devemos ter em mente que o contrário de existência não é inexistência, mas insistência: o que não existe continua a insistir, lutando para passar a existir (…). Quando perco uma oportunidade ética crucial e deixo de realizar a ação que “mudaria tudo”, a própria inexistência do que eu deveria ter feito há de me perseguir para sempre: apesar de não existir o que eu não fiz, seu espectro continua a insistir. Numa leitura notável das “Teses sobre Filosofia da História”, de Walter Benjamin, Eric Santner desenvolve a noção benjaminiana de que uma intervenção revolucionária presente repete e redime as tentativas fracassadas do passado. Os “sintomas” - traços passados que são retroativamente redimidos pelo “milagre” da intervenção revolucionária - “não são atos esquecidos, mas, pelo contrário, as omissões de ação que ficaram esquecidas, a incapacidade de suspender a força da ligação social que inibe os atos de solidariedade com os 'outros' da sociedade”:
“Os sintomas registram não somente as tentativas fracassadas do passado, mas, mais modestamente, as ocasiões no passado em que se deixou de reagir ao chamado à ação ou à empatia pelos outros cujo sofrimento de alguma forma pertence à forma de vida de que se é parte. Ocupam o lugar de alguma coisa que está lá,que insiste na nossa vida, apesar de nunca ter chegado à completa consistência ontológica. Assim, os sintomas são, em certo sentido, os arquivos virtuais dos vazios – ou, talvez melhor, defesas contra os vazios – que persistem na experiência histórica.”
Santner especifica a maneira como esses sintomas tomam forma de disrupções da vida social “normal”, como participações nos rituais obscenos da ideologia dominante. Não teria sido a infame Kristallnacht de 1938 – a explosão de violência meio espontânea, meio organizada contra os lares, sinagogas, negócios e pessoas de judeus – um perfeito “carnaval” bakhtiniano? A Kristallnacht deve ser entendida como um “sintoma”: a fúria de tal explosão de violência a faz um sintoma – o mecanismo de defesa que cobre o vazio da incapacidade de intervir eficazmente na crise social. Noutras palavras, a própria fúria dos pogroms anti-semitas é uma prova a contrario da possibilidade da autêntica revolução proletária: sua energia excessiva só pode ser entendida como uma reação ao reconhecimento (“inconsciente”) da oportunidade revolucionária perdida. E não seria a causa última da Ostalgia (nostalgia pelo passado comunista) entre muitos intelectuais (e até mesmo entre pessoas comuns) da falecida República Democrática da Alemanha também o desejo, não tanto do passado comunista, do que realmente aconteceu sob o comunismo, mas do que poderia ter acontecido, da oportunidade perdida de uma outra Alemanha? Conseqüentemente, não seriam também as explosões pós-comunistas de violência neonazista uma prova negativa da presença dessas oportunidades de emancipação, uma explosão sintomática de fúria que substitui a consciência de oportunidades perdidas? Não devemos ter medo de traçar um paralelo com a vida psíquica individual; assim como a consciência da perda de uma oportunidade “privada” (por exemplo, a oportunidade de se envolver numa relação amorosa enriquecedora) geralmente deixa traços sob a forma de angústias, dores de cabeça e acessos de raiva “irracionais”, o vazio da oportunidade revolucionária perdida pode acabar explodindo em acessos “irracionais” de fúria destrutiva...
(Slavoj Zizek)
ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do Real! - São Paulo: Boitempo Editorial, 2003, p. 37-9.
“Os sintomas registram não somente as tentativas fracassadas do passado, mas, mais modestamente, as ocasiões no passado em que se deixou de reagir ao chamado à ação ou à empatia pelos outros cujo sofrimento de alguma forma pertence à forma de vida de que se é parte. Ocupam o lugar de alguma coisa que está lá,que insiste na nossa vida, apesar de nunca ter chegado à completa consistência ontológica. Assim, os sintomas são, em certo sentido, os arquivos virtuais dos vazios – ou, talvez melhor, defesas contra os vazios – que persistem na experiência histórica.”
Santner especifica a maneira como esses sintomas tomam forma de disrupções da vida social “normal”, como participações nos rituais obscenos da ideologia dominante. Não teria sido a infame Kristallnacht de 1938 – a explosão de violência meio espontânea, meio organizada contra os lares, sinagogas, negócios e pessoas de judeus – um perfeito “carnaval” bakhtiniano? A Kristallnacht deve ser entendida como um “sintoma”: a fúria de tal explosão de violência a faz um sintoma – o mecanismo de defesa que cobre o vazio da incapacidade de intervir eficazmente na crise social. Noutras palavras, a própria fúria dos pogroms anti-semitas é uma prova a contrario da possibilidade da autêntica revolução proletária: sua energia excessiva só pode ser entendida como uma reação ao reconhecimento (“inconsciente”) da oportunidade revolucionária perdida. E não seria a causa última da Ostalgia (nostalgia pelo passado comunista) entre muitos intelectuais (e até mesmo entre pessoas comuns) da falecida República Democrática da Alemanha também o desejo, não tanto do passado comunista, do que realmente aconteceu sob o comunismo, mas do que poderia ter acontecido, da oportunidade perdida de uma outra Alemanha? Conseqüentemente, não seriam também as explosões pós-comunistas de violência neonazista uma prova negativa da presença dessas oportunidades de emancipação, uma explosão sintomática de fúria que substitui a consciência de oportunidades perdidas? Não devemos ter medo de traçar um paralelo com a vida psíquica individual; assim como a consciência da perda de uma oportunidade “privada” (por exemplo, a oportunidade de se envolver numa relação amorosa enriquecedora) geralmente deixa traços sob a forma de angústias, dores de cabeça e acessos de raiva “irracionais”, o vazio da oportunidade revolucionária perdida pode acabar explodindo em acessos “irracionais” de fúria destrutiva...
(Slavoj Zizek)
ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do Real! - São Paulo: Boitempo Editorial, 2003, p. 37-9.
terça-feira, 25 de maio de 2010
Una mujer desnuda y en lo escuro
Una mujer desnuda y en lo oscuro
tiene una claridad que nos alumbra
de modo que si ocurre un desconsuelo
un apagón o una noche sin luna
es conveniente y hasta imprescindible
tener a mano una mujer desnuda.
Una mujer desnuda y en lo oscuro
genera un resplandor que da confianza
entonces dominguea el almanaque
vibran en su rincón las telarañas
y los ojos felices y felinos
miran y de mirar nunca se cansan.
Una mujer desnuda y en lo oscuro
es una vocación para las manos
para los labios es casi un destino
y para el corazón un despilfarro
una mujer desnuda es un enigma
y siempre es una fiesta descifrarlo.
Una mujer desnuda y en lo oscuro
genera una luz propia y nos enciende
el cielo raso se convierte en cielo
y es una gloria no ser inocente
una mujer querida o vislumbrada
desbarata por una vez la muerte.
(Mario Benedetti)
tiene una claridad que nos alumbra
de modo que si ocurre un desconsuelo
un apagón o una noche sin luna
es conveniente y hasta imprescindible
tener a mano una mujer desnuda.
Una mujer desnuda y en lo oscuro
genera un resplandor que da confianza
entonces dominguea el almanaque
vibran en su rincón las telarañas
y los ojos felices y felinos
miran y de mirar nunca se cansan.
Una mujer desnuda y en lo oscuro
es una vocación para las manos
para los labios es casi un destino
y para el corazón un despilfarro
una mujer desnuda es un enigma
y siempre es una fiesta descifrarlo.
Una mujer desnuda y en lo oscuro
genera una luz propia y nos enciende
el cielo raso se convierte en cielo
y es una gloria no ser inocente
una mujer querida o vislumbrada
desbarata por una vez la muerte.
(Mario Benedetti)
quinta-feira, 20 de maio de 2010
O que é a vida? O que a torna digna de ser vivida?
Na medida em que "morte" e "vida" designam para São Paulo [o apóstolo] duas posições existenciais (subjetivas), e não fatos "objetivos", é justificável que se faça a pergunta paulina: "Quem está realmente vivo hoje?"
E se somente estivermos realmente vivos se nos comprometermos com uma intensidade excessiva que nos coloca além de uma "vida nua"? E se, ao nos concentrarmos na simples sobrevivência, mesmo quando é qualificada de "uma boa vida", o que realmente perdemos na vida for a própria vida? (...) E se, em termos de processo revolucionário, a diferença que separa a era de Lenin da de Stalin for, mais uma vez, a diferença entre a vida e a morte? Existe uma característica aparentemente marginal que esclarece bem essa questão: a atitude básica do comunista stalinista é a de seguir a correta linha do partido contra os desvios à "esquerda" ou à "direita" – isto é, seguir o seguro caminho do meio; quanto ao leninismo autêntico, em nítido contraste, só existe um único desvio, o de centro – o de "não correr riscos", de evitar oportunisticamente o risco de clara e excessivamente "escolher um lado". (...) Essa excessiva "escolha de lados", o desequilíbrio ziguezagueante permanente, é, em última análise, a própria vida (política revolucionária) – para um leninista, o nome definitivo da direita contra-revolucionária é o próprio "centro", o medo de introduzir um desequilíbrio radical no edifício social. (...)
O que torna a vida "digna de ser vivida" é o próprio excesso de vida: a consciência da existência de algo pelo que alguém se dispõe a arriscar a vida (podemos chamar esse excesso de "liberdade", "honra", "dignidade", "autonomia", etc.). Somente quando prontos a assumir esse risco estamos realmente vivos.
ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do Real! São Paulo: Boitempo Editorial, 2003, p. 108-9.
E se somente estivermos realmente vivos se nos comprometermos com uma intensidade excessiva que nos coloca além de uma "vida nua"? E se, ao nos concentrarmos na simples sobrevivência, mesmo quando é qualificada de "uma boa vida", o que realmente perdemos na vida for a própria vida? (...) E se, em termos de processo revolucionário, a diferença que separa a era de Lenin da de Stalin for, mais uma vez, a diferença entre a vida e a morte? Existe uma característica aparentemente marginal que esclarece bem essa questão: a atitude básica do comunista stalinista é a de seguir a correta linha do partido contra os desvios à "esquerda" ou à "direita" – isto é, seguir o seguro caminho do meio; quanto ao leninismo autêntico, em nítido contraste, só existe um único desvio, o de centro – o de "não correr riscos", de evitar oportunisticamente o risco de clara e excessivamente "escolher um lado". (...) Essa excessiva "escolha de lados", o desequilíbrio ziguezagueante permanente, é, em última análise, a própria vida (política revolucionária) – para um leninista, o nome definitivo da direita contra-revolucionária é o próprio "centro", o medo de introduzir um desequilíbrio radical no edifício social. (...)
O que torna a vida "digna de ser vivida" é o próprio excesso de vida: a consciência da existência de algo pelo que alguém se dispõe a arriscar a vida (podemos chamar esse excesso de "liberdade", "honra", "dignidade", "autonomia", etc.). Somente quando prontos a assumir esse risco estamos realmente vivos.
ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do Real! São Paulo: Boitempo Editorial, 2003, p. 108-9.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Sobre amor e política
Como disse Hanif Kureishi numa entrevista sobre seu livro Intimidade: “Há vinte anos, política era tentar fazer uma revolução e mudar a sociedade, mas agora a política se reduz a dois corpos, que são capazes de recriar todo o mundo fazendo amor num porão”. Confrontados com uma afirmação como essa, só podemos recordar a velha lição da Teoria Crítica: quando tentamos preservar a autêntica esfera íntima de privacidade contra o ataque das transações públicas “alienadas” instrumentais e objetificadas, é a própria privacidade que se torna uma esfera completamente objetificada e “mercadizada”. Fuga para a privacidade hoje significa adotar as fórmulas de autenticidade privada propagadas pela indústria cultural recente – desde as lições sobre o iluminamento espiritual, a última mania cultural e outras modas, até as atividades físicas da corrida e do fisiculturismo. A verdade última do retiro na privacidade é a confissão pública de segredos íntimos num programa de TV – contra essa espécie de privacidade, devemos enfatizar que hoje a única forma de romper as restrições da mercadização alienada é inventar uma nova coletividade. Hoje, mais do que nunca, a lição dos romances de Marguerite Duras é relevante: o meio – o único meio – de se ter uma relação pessoal (sexual) intensa e satisfatória não é o casal olhar nos olhos um do outro, esquecido do mundo em volta, mas, ainda de mãos dadas, olharem os dois juntos para fora, para um terceiro ponto (a Causa pela qual os dois lutam, em que os dois estão engajados).
ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do Real! São Paulo: Boitempo Editorial, 2003, p. 105.
ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do Real! São Paulo: Boitempo Editorial, 2003, p. 105.
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Sobre amor e causa comum
O problema do gozo é que ele nunca funciona diretamente; é sempre perturbado. Nas sociedades permissivas de hoje, por exemplo, temos o paradoxo inverso. Ou seja, oficialmente, contamos com a sociedade permissiva, temos permissão de gozar, ou melhor, de ter prazer; temos permissão de organizar nossa vida em torno da maneira de obter a máxima satisfação possível, de realizar nosso eu, e assim por diante. Mas qual é o resultado fundamental? O resultado necessário e intrínseco é que, para realmente gozarmos a vida, temos de seguir um sem-número de normas e proibições: nada de assédio sexual, fumo, alimentos gordurosos, álcool, ovos, nada de situações estressantes etc. O paradoxo é que, se você postula o prazer diretamente como uma meta, é obrigado/a a se submeter a diversas condições – por exemplo, preparação física para se manter sexualmente atraente -, de modo que seu prazer imediato torna a se estragar.
O paradoxo central do gozo é que não se pode tê-lo diretamente como objetivo; ele é sempre um subproduto. Esse paradoxo é fácil de discernir em alguns melodramas inteligentes, que mostram que o verdadeiro amor nunca é apenas uma relação simétrica entre duas pessoas que só olham uma para a outra, concordando em tudo, e se esquecem do mundo. É o que Bertholt Brecht chamava de das Lob der dritten Sache, o louvor à coisa terceira. Para mim, isso é quase um lema pessoal. Para se ter uma relação amorosa feliz, é preciso que haja uma causa comum como terceiro. As duas pessoas não olham uma para a outra, concordando em tudo, mas olham ambas para a causa comum, e é assim que se pode ser feliz na relação interpessoal.
Esse foi o grande erro do movimento hippie da década de 1960 e da política de gozo que emergiu dele. Opondo-se à chamada repressão burguesa, eles almejaram diretamente o prazer sexual como categoria política. O que pretendiam dizer com isso era que, em oposição à renúncia patriarcal, era preciso aprender a viver, a desfrutar espontaneamente a sexualidade, a vida ou o que fosse, e isso nos tornaria menos agressivos, menos autoritários etc. Na verdade, o tiro saiu pela culatra. Fica muito claro – e digo isto como esquerdista e pela perspectiva de alguém que tem vários amigos que viveram numa dessas comunas antiautoritárias – que essa aparente abolição da autoridade gerou uma autoridade ainda mais sufocante: uma espécie de comunidade falsamente igualitária, na qual as proibições eram ainda mais radicais e intrusivas.
(Slavoj Zizek)
ZIZEK, Slavoj e DALY, Glyn. Arriscar o impossível – Conversas com Zizek. São Paulo: Martins, 2006, p. 142-3.
O paradoxo central do gozo é que não se pode tê-lo diretamente como objetivo; ele é sempre um subproduto. Esse paradoxo é fácil de discernir em alguns melodramas inteligentes, que mostram que o verdadeiro amor nunca é apenas uma relação simétrica entre duas pessoas que só olham uma para a outra, concordando em tudo, e se esquecem do mundo. É o que Bertholt Brecht chamava de das Lob der dritten Sache, o louvor à coisa terceira. Para mim, isso é quase um lema pessoal. Para se ter uma relação amorosa feliz, é preciso que haja uma causa comum como terceiro. As duas pessoas não olham uma para a outra, concordando em tudo, mas olham ambas para a causa comum, e é assim que se pode ser feliz na relação interpessoal.
Esse foi o grande erro do movimento hippie da década de 1960 e da política de gozo que emergiu dele. Opondo-se à chamada repressão burguesa, eles almejaram diretamente o prazer sexual como categoria política. O que pretendiam dizer com isso era que, em oposição à renúncia patriarcal, era preciso aprender a viver, a desfrutar espontaneamente a sexualidade, a vida ou o que fosse, e isso nos tornaria menos agressivos, menos autoritários etc. Na verdade, o tiro saiu pela culatra. Fica muito claro – e digo isto como esquerdista e pela perspectiva de alguém que tem vários amigos que viveram numa dessas comunas antiautoritárias – que essa aparente abolição da autoridade gerou uma autoridade ainda mais sufocante: uma espécie de comunidade falsamente igualitária, na qual as proibições eram ainda mais radicais e intrusivas.
(Slavoj Zizek)
ZIZEK, Slavoj e DALY, Glyn. Arriscar o impossível – Conversas com Zizek. São Paulo: Martins, 2006, p. 142-3.
domingo, 16 de maio de 2010
Uma meia-noite clara
.
Esta é a tua hora, ó alma, a do teu livre vôo para lá das palavras,
Dos livros, da arte, apagado o dia, concluída a lição,
Quando tu emerges plenamente, silenciosa, absorta,
meditando sobre os temas que mais amas,
A noite, o sono, a morte e as estrelas.
(Walt Whitman)
.
Esta é a tua hora, ó alma, a do teu livre vôo para lá das palavras,
Dos livros, da arte, apagado o dia, concluída a lição,
Quando tu emerges plenamente, silenciosa, absorta,
meditando sobre os temas que mais amas,
A noite, o sono, a morte e as estrelas.
(Walt Whitman)
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sábado, 15 de maio de 2010
16 de maio, 3 da manhã... Canción de jinete
.
Canción de jinete
Córdoba.
Lejana y sola.
Jaca negra, luna grande,
y aceitunas en mi alforja.
Aunque sepa los caminos
yo nunca llegaré a Córdoba.
Por el llano, por el viento,
jaca negra, luna roja.
La muerte me está mirando
desde las torres de Córdoba.
¡Ay que camino tan largo!
¡Ay mi jaca valerosa!
¡Ay que la muerte me espera,
antes de llegar a Córdoba!
Córdoba.
Lejana y sola.
(Federico García Lorca)
.
Canción de jinete
Córdoba.
Lejana y sola.
Jaca negra, luna grande,
y aceitunas en mi alforja.
Aunque sepa los caminos
yo nunca llegaré a Córdoba.
Por el llano, por el viento,
jaca negra, luna roja.
La muerte me está mirando
desde las torres de Córdoba.
¡Ay que camino tan largo!
¡Ay mi jaca valerosa!
¡Ay que la muerte me espera,
antes de llegar a Córdoba!
Córdoba.
Lejana y sola.
(Federico García Lorca)
.
terça-feira, 11 de maio de 2010
Noite de 11 de maio de 2010... Homem que olha o céu
.
HOMEM QUE OLHA O CÉU
Enquanto passa a estrela fugaz
Junto neste desejo instantâneo
montões de desejos profundos e prioritários
por exemplo que a dor não me apague a raiva
que a alegria não desarme o amor
que os assassinos do povo devorem
seus molares caninos e incisivos
e mordam judiciosamente o próprio fígado
que as grades das prisões
se transformem em açúcar ou se curvem de piedade
e os meus irmãos possam fazer de novo
amor e a revolução
que quando enfrentarmos o implacável espelho
não o amaldiçoemos nem nos amaldiçoemos
que os justos avancem
ainda que imperfeitos e feridos
que avancem obstinados como castores
solidários como abelhas
aguerridos como jaguares
e empunhem todos os seus nãos
para instalar a grande afirmação
que a morte perca a sua asquerosa pontualidade
que quando o coração saia do peito
possa encontrar o caminho de regresso
que a morte perca a sua asquerosa
e brutal pontualidade
mas se chegar pontual não nos agarre
mortos de vergonha
que o ar volte a ser respirável e de todos
e que tu, mocinha, avances alegre e dolorida
ponho nos teus olhos a alma
e a tua mão na minha mão
e nada mais
porque o céu já está turvo novamente
e sem estrelas
com helicópteros e sem deus.
(Mário Benedetti)
HOMEM QUE OLHA O CÉU
Enquanto passa a estrela fugaz
Junto neste desejo instantâneo
montões de desejos profundos e prioritários
por exemplo que a dor não me apague a raiva
que a alegria não desarme o amor
que os assassinos do povo devorem
seus molares caninos e incisivos
e mordam judiciosamente o próprio fígado
que as grades das prisões
se transformem em açúcar ou se curvem de piedade
e os meus irmãos possam fazer de novo
amor e a revolução
que quando enfrentarmos o implacável espelho
não o amaldiçoemos nem nos amaldiçoemos
que os justos avancem
ainda que imperfeitos e feridos
que avancem obstinados como castores
solidários como abelhas
aguerridos como jaguares
e empunhem todos os seus nãos
para instalar a grande afirmação
que a morte perca a sua asquerosa pontualidade
que quando o coração saia do peito
possa encontrar o caminho de regresso
que a morte perca a sua asquerosa
e brutal pontualidade
mas se chegar pontual não nos agarre
mortos de vergonha
que o ar volte a ser respirável e de todos
e que tu, mocinha, avances alegre e dolorida
ponho nos teus olhos a alma
e a tua mão na minha mão
e nada mais
porque o céu já está turvo novamente
e sem estrelas
com helicópteros e sem deus.
(Mário Benedetti)
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