quinta-feira, 20 de maio de 2010

O que é a vida? O que a torna digna de ser vivida?

Na medida em que "morte" e "vida" designam para São Paulo [o apóstolo] duas posições existenciais (subjetivas), e não fatos "objetivos", é justificável que se faça a pergunta paulina: "Quem está realmente vivo hoje?"

E se somente estivermos realmente vivos se nos comprometermos com uma intensidade excessiva que nos coloca além de uma "vida nua"? E se, ao nos concentrarmos na simples sobrevivência, mesmo quando é qualificada de "uma boa vida", o que realmente perdemos na vida for a própria vida? (...) E se, em termos de processo revolucionário, a diferença que separa a era de Lenin da de Stalin for, mais uma vez, a diferença entre a vida e a morte? Existe uma característica aparentemente marginal que esclarece bem essa questão: a atitude básica do comunista stalinista é a de seguir a correta linha do partido contra os desvios à "esquerda" ou à "direita" – isto é, seguir o seguro caminho do meio; quanto ao leninismo autêntico, em nítido contraste, só existe um único desvio, o de centro – o de "não correr riscos", de evitar oportunisticamente o risco de clara e excessivamente "escolher um lado". (...) Essa excessiva "escolha de lados", o desequilíbrio ziguezagueante permanente, é, em última análise, a própria vida (política revolucionária) – para um leninista, o nome definitivo da direita contra-revolucionária é o próprio "centro", o medo de introduzir um desequilíbrio radical no edifício social. (...)

O que torna a vida "digna de ser vivida" é o próprio excesso de vida: a consciência da existência de algo pelo que alguém se dispõe a arriscar a vida (podemos chamar esse excesso de "liberdade", "honra", "dignidade", "autonomia", etc.). Somente quando prontos a assumir esse risco estamos realmente vivos.

ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo ao deserto do Real! São Paulo: Boitempo Editorial, 2003, p. 108-9.

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