Cidade de Granada, Espanha, madrugada de 18 (ou 19, não se sabe ao certo) de agosto de 1936. Morria nesse dia, aos 38 anos de idade, Federico García Lorca. Morria? Assassinato é a palavra certa. Por suas opiniões políticas, por sua homossexualidade – motivo pelo qual sofria ataques e perseguições - e certamente por ser poeta.
Naquela época de grandes embates políticos, o general Francisco Franco (1892-1975) chegava ao poder através de um golpe militar que o manteria na condição de ditador por 40 anos.
Por que assassinar um poeta? Porque, quando arrumadas de uma forma especial, as palavras podem se converter em armas perigosas. Num país de profundas desigualdades, de tradições conservadoras, numa conjuntura de ascensão do fascismo e onde a revolução era uma ameaça, um artista declarar publicamente que “neste mundo eu sempre sou e serei partidário dos pobres, eu sempre serei partidário dos que não têm nada e até a tranqüilidade do nada lhes é negada”, e usar a arte para sensibilizar sobre a necessidade de uma transformação social radical, pode se tornar inconveniente para os que detêm o poder.
Nesse caso, a pena não pode ser outra que não a morte. Tal o destino de Lorca: morto e jogado numa vala comum. Seu corpo nunca foi encontrado.
O que isto tem a ver com o Brasil? Simples. Também aqui se condena à morte os artistas. Não pelo fuzil, mas pelo desprezo. Pensemos em Santa Maria: quantos são os que tentam fazer sua arte tocar as sensibilidades alheias e despertá-las para outros sentidos e significados, mas que têm de trabalhar sozinhos e sem reconhecimento? Porque os poderes estabelecidos fingem que inúmeros sujeitos com talento para a criatividade estética não existem. Não seria isto, de certo modo, um tipo de assassinato? Por que isso ocorre? Cada um deve tirar suas conclusões. Parece forçoso admitir, contudo, que se trata de um mau sinal dos tempos quando a sociedade assassina, por tiro ou indiferença, os seus artistas.
Que esses anônimos saibam tirar sua força artística do enfrentamento dessas dificuldades e encontrem meios para superar a morte da vala comum do esquecimento.
sábado, 12 de setembro de 2009
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