Em algum lugar da encosta de um morro da "cidade-cultura", envolto em sombras, vive um cidadão comum. Quem saberá seu nome? Solteiro, 45 anos, desempregado. Deseja arrumar logo um emprego para poder aumentar a casa onde mora. Quarto, sala, cozinha e banheiro divididos em três metros de comprimento por seis de largura. Está confiante. Agora, com seu cantinho garantido, começa para ele uma nova luta. Tal como para muitos.
Em Santa Maria, um fenômeno digno de destaque é o aparecimento de favelas nos últimos anos. Exemplos não faltam: ao redor do morro Cechella existem casas minúsculas, paupérrimas, feitas de papelão, piso de chão batido, algumas delas com três metros quadrados de área, ou nem isto. Outro exemplo: uma favela paralela à rua Silva Jardim, mais ou menos na altura da escola Aracy Barreto Sacchis, no lado direito de quem vai no sentido centro-bairro. É preciso entrar por uma ruazinha para vê-la.
Depois que a Viação Férrea foi privatizada, algumas de suas linhas foram desativadas. No trecho onde passavam os trens entre a rua Sete de Setembro e a Av. Borges de Medeiros, os trilhos foram retirados e em seus lugares brotaram casebres de todo tipo: madeira, tijolos, mistas. Esta realidade acabou por formar, pouco a pouco, um paradoxo. Algumas destas casas, situadas no limite entre a vila Valdemar Rodrigues e o bairro Rosário, estão a meros 5 minutos de uma universidade particular localizada neste mesmo bairro. Apenas centenas de metros separam dois mundos diversos e opostos: o dos que podem pagar para ter formação superior e o dos que desgraçadamente dispõem de condições precárias de habitação. Chocar-se-ão um dia?
Nossa cidade não representa um caso isolado. Segundo a ONU, um bilhão de pessoas vive hoje em favelas pelo mundo. Correspondem a um terço da população urbana do planeta. As estimativas são de que este número aumente para dois bilhões nas próximas décadas. Diante desse quadro, houve sociólogos que afirmaram que a favelização das cidades consiste no evento geo-político mais importante do nosso tempo. Santa Maria expressa, então, uma tendência global.
sábado, 12 de setembro de 2009
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