sábado, 12 de setembro de 2009

Santa Maria a contrapelo

Como bem explicou Walter Benjamin, escovar a história a contrapelo significa a recusa radical em compartilhar das concepções conformistas, fatalistas e lineares da história, aquelas para as quais o progresso é a norma. É um nadar contra a corrente da versão narrativa oficial dos fatos que auxilia o enfrentamento e superação da forma em vigor hoje de nossa sociedade.

Alguns dos textos que aqui se encontram visam resgatar a tradição dos oprimidos, mostrar o que foi reprimido, esquecido e intencionalmente escondido por todos aqueles que venceram e narraram à sua maneira as lutas históricas. O objetivo que se quer atingir é duplo: criticar a versão institucionalizada dos fatos, e contribuir, ainda que modestamente, para a transformação da estrutura social vigente.

Parto do princípio de que a emancipação humana não acontecerá graças ao “curso natural” das coisas - o “progresso” entendido no preciso significado de desenvolvimento capitalista - e sim pela modificação radical consciente desse conjunto de processos. Deixada à própria sorte, ou acariciada no sentido do pêlo, a história apenas reproduz aquilo que temos verificado pelos séculos afora: guerras, catástrofes, barbárie, opressão. Nesse contexto, tenho constatado que as concepções da história formuladas do ponto de vista dos vencedores tendem inexoravelmente a reafirmar e a reforçar o sentido dessas ações em prática.

Em contrapartida, escovar a história a contrapelo, por assumir a perspectiva dos excluídos, dos párias e dos esfarrapados de todos os tempos, busca apresentar os eventos de uma forma que revele o que ficou escondido sob a capa dos relatos oficiais da história. É um tipo especial de relação que assim se estabelece com o passado por intermédio da rememoração do que foi reprimido pelas forças hegemônicas de nossa sociedade. Penso que isto pode provocar um efeito especial na subjetividade coletiva, um choque capaz de dar à luz posturas negadoras do atual estado de coisas e afirmadoras de algo novo. Trata-se, enfim, de uma experiência com o passado capaz de mudar a percepção do já ocorrido e, ao mesmo tempo, mobilizar energias capazes de desencadear as transformações necessárias ao presente.

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